Por volta de 2019 eu estava passando por uma fase difícil na vida. Daqueles períodos onde você se encontra cheio de dúvidas e incertezas sobre si próprio.
Um belo dia naquele ano, escrevi e compartilhei um texto-desabafo em meu perfil no Facebook, sobre o que na época era o assunto mais pessoal do qual eu já havia publicado em uma rede social.
Eu estava na dúvida se queria me expor daquela forma e não tinha certeza do que eu pretendia alcançar com aquele texto a não ser mesmo apenas compartilhar um desabafo de forma pública.
O resultado final foi bem legal e ajudou a me sentir melhor: recebi um monte de comentários e mensagens positivas de amigos ou familiares próximos, e também de gente que eu já nem tinha mais tanto contato e que nem imaginava que se importariam.
Ali tive a certeza de que valeu a pena expor de forma tão aberta as minhas inseguranças que tinha naquele momento.
Entre mensagens de apoio, sugestões de músicas e mais algumas outras coisas, um amigo sugeriu que eu lesse o livro “10% happier”, escrito por um jornalista americano.
Assim o fiz.
Confesso que esperava um pouco mais, não pelo fato de ter achado o livro ruim, pelo contrário, haviam neles algumas histórias muito interessantes e, obviamente, muito bem escritas.
O que acontece é que, pra mim, pareceu mais uma espécie de autobiografia do autor do que um “manual da felicidade” como eu inocentemente cheguei a pensar que seria antes de começar a ler. E como eu não tinha nenhuma familiaridade com o autor até então, faltou um pouco daquele sentimento de “conexão” e interesse extra em sua história de vida, que eu já havia sentido lendo outras biografias de pessoas que eu “já conhecia”.
Uma lição do livro, porém, me marcou muito.
Não sei nem bem se aquilo era pra ser uma lição, na verdade, ou só mais uma história que ele estava compartilhando sobre a trajetória dele: o autor conta que tinha dificuldades de se concentrar nas suas práticas de meditação e por isso nunca conseguiu apreciar tanto o ato de meditar em si, ou entender como tal ato poderia contribuir para um maior bem estar no seu dia a dia.
Eu me identifiquei bastante com essa parte pois até então eu já tinha tentado introduzir a meditação de forma mais frequente na minha vida por algumas vezes e falhado por motivos muito semelhantes aos citados acima.
Pois bem, entre algumas de suas buscas de “como aprender a meditar” ou “como meditar melhor”, o jornalista encontrou uma espécie de mantra que passou a usar a partir de então nas suas meditações. E que desde que eu li sobre, eu também adoto nas minhas.
A prática consiste em desejar coisas positivas para três grupos de pessoas:
Primeiro, para pessoas próximas e queridas, como familiares ou melhores amigos.
O segundo grupo fica composto pelo que eu apelidei de “conhecidos distantes”, como por exemplo um funcionário que você vê com frequência na academia que visita diariamente, um amigo de amigo, professora de anos atrás na escola, etc.
Por último, o grupo dos seus “desafetos”. Pessoas com quem já brigou ou ainda é brigado, pessoas com quem já teve desavenças no trabalho, enfim, pessoas que você pode pensar aí na sua cabeça como alguém que você “não gosta”.
Eu curti essa prática desde a primeira vez em que a adotei e, a partir de então, sempre que eu vou meditar – geralmente faço isso umas duas vezes por semana na sauna, após me exercitar – escolho 5 pessoas de cada um dos grupos e, enquanto inspiro e expiro lentamente, as desejo as seguintes coisas nos meus pensamentos:
“Eu desejo que ela tenha saúde, eu desejo que ela tenha alegria, eu desejo que ela tenha paz”.
Uma pessoa por vez, pra que os desejos sejam bem sinceros e concentrados em levar esses pensamentos para cada uma delas.
Por exemplo, “pessoas que eu amo” – minha mãe me vem à cabeça: “Eu desejo que ela tenha saúde, eu desejo que ela tenha alegria, eu desejo que ela tenha paz”.
E assim com mais 4 pessoas queridas até chegar em 5 “conhecidos distantes” e por último os nossos 5 menos favoritos da vez.
Depois de alguns anos de prática, comecei a tomar tanto gosto que passei a repetir o grupo 1 no fim da prática, então minha lista final fica assim:
5 “pessoas que amo”, 5 “pessoas que conheço ou já vi”, 5 “pessoas que não gosto” e de novo 5 “pessoas que amo”.
Acho que o objetivo de incluir um grupo de nossas pessoas menos preferidas é praticarmos o ato de perdoar, de relevar, de seguir em frente. De não se deixar contaminar com coisas ruins.
E algo que eu acho bem legal quando reflito sobre o grupo de “pessoas que não gosto” é que esses são sempre os mais difíceis de eu me lembrar.
Talvez por eu tentar sempre que possível fugir de conflitos bobos e assim não criar muitos desafetos ou quem sabe por naturalmente não guardar rancor por muito tempo. Mas acho que principalmente por entender que pessoas ruins são passageiras na nossa vida.
Também é interessante lembrar que em algum momento do passado certas pessoas já se encaixaram no grupo das que “não gosto tanto”, mas hoje em dia subiram no ranking e já não me incomodam mais.
E todas essas reflexões contribuem para que eu tente sempre levar a minha vida de uma forma que eu mesmo venha a me encaixar nos grupos de boas pessoas daqueles que estão ao meu redor, sejam elas pessoas que meditem, que pratiquem mantras parecidos, ou não.
Por algumas vezes, em situações onde me senti decepcionado, deixado pra trás ou que alguém possa ter demonstrado ingratidão, já me peguei pensando algo do tipo: “ah, eu tenho que parar de ser bonzinho”.
Mas, pra falar a verdade, fico feliz por esse sentimento geralmente passar em poucos minutos.
Durante muitos anos eu busquei compreender melhor qual é a minha verdadeira essência, encontrar respostas quando estive cheio de dúvidas e incertezas sobre a minha própria personalidade e lutar contra certos pensamentos negativos que me botavam mais pra baixo do que eu realmente deveria.
Hoje, depois de estar por um bom tempo em paz comigo mesmo e finalmente seguro da minha personalidade e das minhas qualidades, posso afirmar: vou continuar sendo bonzinho, sim, pois essa é minha essência como ser humano.
Seja por conta de como fui educado pelos meus pais, genética, não sei, mas sei que estou disposto a jamais me deixar contaminar pelas tais “pessoas que não gosto”. Apenas deixo que elas mesmo se distanciem da minha vida e, depois de um tempinho, que se apaguem da minha memória.
E se você discorda de tal pensamento e prefere agir de maneira diferente, tudo bem.
De uma forma ou de outra…
“Eu desejo que você tenha saúde, eu desejo que você tenha alegria, eu desejo que você tenha paz”.
Leave a comment