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Em 2010, durante o primeiro semestre da faculdade de Publicidade, fui logo atrás de um estágio na área. Consegui uma vaga em uma agência onde trabalharia de graça por tempo indeterminado, e assim fiquei por 5 meses, até começar a ganhar R$500 mensais. Mais importante do que qualquer outra coisa era a oportunidade de aprender e começar a desenvolver um início de carreira, por mais que o dinheiro também fosse extremamente necessário.

Como a maioria dos estagiários que eu conheço ou já ouvi falar sobre em agências de publicidades no Brasil, quando você chega num lugar desses querendo aprender, logo, logo o esperado é que você já possa contribuir (sendo pago para isso, ou não).

E assim foi minha trajetória nessa primeira experiência.

Um dos meus maiores medos, assim como acontece com frequência na minha vida quando chego em lugares novos, era de sentir que eu estava mais atrapalhando do que ajudando, mas mesmo cheio de incertezas e inseguranças, a vontade de evoluir me fazia um estagiário que mais agregava do que o contrário, na minha opinião.

Não sei se minha chefe direta compartilhava sempre dessa mesma opinião, entretanto.

Um certo dia no escritório, meses depois de eu já estar ali, lembro que ela não gostou de eu pedir pra ela conferir se uma carta que eu tinha que levar nos correios estava no padrão certo para envio – era a primeira carta física que eu enviaria na minha vida e achei que seria bom pedir pra alguém revisar. Me chamou pra conversar um tempinho depois e entre algumas coisas que ela disse, uma frase ficou bem marcada na minha cabeça: “Não quero te perder”.

Me recordo do meu coração acelerar enquanto ela falava mais algumas outras coisas do tipo. Eu pensei que ia ser demitido logo, logo.

Olhando pra trás, talvez eu tenha exagerado negativamente na interpretação daquilo tudo, talvez fosse só mesmo uma conversa normal de gestora e estagiário onde ela só estava tentando me fazer melhorar. Mas nos meus pensamentos da época eu concluí que pra ela estar levantando essa bola de “não quero te perder” é porque ela provavelmente já considerava por um tempo me ver longe da equipe.

Isso tudo fazia a minha confiança ir lá no chão.

Pensava em desistir (“será que estou atrapalhando mais do que ajudando?”) mas acabei ficando e tentando trabalhar alguns desses pontos que ainda podiam ser melhores desenvolvidos – trabalho em muitos até hoje.

É engraçado pensar que essa gestora era o tipo de pessoa que jogava ‘Fazenda feliz’ no escritório quando o chefe direto dela não estava olhando. E também alguém que nem esboçava abrir a boca pra mencionar o meu nome quando um trabalho que eu tinha feito do começo ao fim recebia elogios. Preferia pegar os créditos todos só para ela.

Algum tempo depois ela acabou saindo da empresa, não se dava muito bem com o dono. Passaram-se mais alguns meses e eu fui contratado para o meu primeiro emprego em tempo integral por uma das empresas parceiras, de um desses projetos que eu tocava.

Quase 15 anos depois, minha carreira vai muito bem, obrigado. Nunca mais tive que enviar uma carta física, mas isso não vem ao caso.

A minha reflexão principal sobre isso tudo é que na vida profissional e na vida pessoal, nós volta e meia nos vemos em lugares onde não necessariamente pertencemos, seja por características, personalidades ou qualidades diferentes, seja simplesmente por falta de interesse ou, quem sabe, porque as pessoas que estão interagindo com a gente não conseguem enxergar tão bem o que temos de melhor para oferecer.

Esse é um lembrete importante para sempre que nos sentirmos incompatíveis com algo ou alguém. Quando isso acontece, pode ser fácil cairmos na armadilha de achar que há algo de errado conosco. E quando a gente cai nessa armadilha, a nossa confiança vai lá no chão, que nem a minha foi por um tempinho lá atrás.

Fico pensando no quanto minha vida profissional teria sido diferente e onde eu estaria nos dias de hoje, caso eu tivesse desistido ali naquele início.

Por alguns breves momentos eu pensei que eu não era capacitado pra ser um estagiário útil, mas vai ver na verdade era a outra pessoa que não era tão capacitada pra estar em um cargo de gestão.

E por falar na minha antiga gestora, não sei por onde ela anda nos dias de hoje, mas torço para que esteja muito bem por aí, também.

Talvez o melhor tanto pra ela quanto pra mim tenha mesmo sido “perder” um ao outro naquela época.

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