Era uma vez uma zona de conforto.

Um lugar onde tudo era familiar.

Onde os círculos de amizades eram bem definidos e os entes queridos vinham visitar toda semana. Onde você recebia suporte de diversas pessoas sempre que precisava.

Ali tinha gente pra te ajudar na cozinha, na lavanderia, pra te dar um abraço ou ser todo ouvidos em um desabafo.

Algumas vezes dava até pra sair de casa sem fazer a cama e, na volta, como num truque de mágica, ela tava lá arrumadinha.

Um lugar onde as rotinas eram previsíveis e de certa forma seguras.

Sem querer dizer que ali era tudo sempre fácil, longe disso. Problemas e reclamações também rotineiros e, às vezes, também meio previsíveis.

Um belo dia bateu uma vontade meio doida.

Algo que é meio difícil de explicar ou até mesmo de entender.

Mas o sentimento era de que era preciso deixar tudo aquilo pra trás, pelo menos por um tempo.

Ir atrás de um lugar bem diferente, bem distante.

Respirar um ar novo, ver uma paisagem nova, me desafiar a falar com pessoas aleatórias e seguir crescendo na minha carreira. Aprender coisas novas, desenvolver hobbies novos.

Aos poucos aquele pensamento ia crescendo, e crescendo.

Até que se tornou realidade.

Agora era só organizar uma festa de despedida pra reunir aqueles que eu mais amava e partir lá pro outro lado do mundo.

Se não desse certo, tudo bem. A gente pode sempre voltar pra nossa zona de conforto.

O “objetivo” era durar pelo menos 7 dias nessa aventura sem querer me mandar de volta correndo (ou voando) pra casa. Menos que isso ia bater uma vergonhazinha.

7 anos depois, o sentimento é de que deu tudo certo.

Crescimento pessoal, profissional. Um expert em lavanderia e em fazer a cama. Na cozinha, mediano, mas tem vezes que o jantar sai bem legal e que o almoço de Domingo é bem elogiado pela galera.

Vários momentos de alegrias e outros de choros deitado no sofá de casa que ninguém nunca viu ou ficou sabendo.

Mas, principalmente, uma sensação de realização completa que também é difícil de entender ou explicar.

Até que de repente aquela vontade ia batendo de novo.

O sentimento de que chegava a hora de buscar coisas novas.

Deixar a casinha pra trás, o emprego, o carrinho, os novos amigos. Agora já nem mais tão novos assim.

Pra ir ali em outro canto do mundo ver o que tem me esperando por lá.

E se não der certo, tudo bem. A gente pode sempre voltar pra nossa zona de conforto.

Mas, um detalhe curioso que me peguei refletindo sobre outro dia desses.

Se precisar voltar pra casa depois de 7 dias ou de 7 anos, ela não vai mais ser aquela lá do início da história.

O lugar que eu tinha medo de vir explorar há 7 anos é agora o lugar onde eu sou a versão mais segura de mim mesmo;

A minha zona de conforto.

 

———-

 

Once upon a time there was a comfort zone.

A place where everything was familiar.

Where friendship circles were well defined and loved ones came to visit every week. Where you received support from several people whenever you needed it.

There were people there to help you in the kitchen, with the laundry, to give you a hug or to be all ears when you need to vent.

Sometimes you could even leave the house without making your bed and, when you came back, like a magic trick, it was there, all tidy.

A place where routines were predictable and somehow safe.

Not to say that everything was always easy there, far from it. Problems and complaints were also routine and, at times, also kind of predictable.

One given day, a kind of crazy urge hit me.

Something that is kind of hard to explain or even to understand.

But the feeling was that it was necessary to leave all that behind, at least for a while.

To go after a very different place, very far away.

Breathe new air, see a new landscape, challenge myself to talk to random people and continue growing in my career. Learn new things, develop new hobbies.

Little by little that thought grew and grew.

Until it became reality.

Now all I had to do was organize a farewell party to gather those I loved the most and head to the other side of the world.

If it didn’t work out, that’s okay. We can always go back to our comfort zone.

The “goal” was to last at least 7 days on this adventure without wanting to send myself running (or flying) back home. Anything less would make me feel a little embarrassed.

7 years later, the feeling is that everything went well.

Personal and professional growth. An expert in laundry and making the bed. In the kitchen, still a bit average, but sometimes dinner turns out really well and at others the Sunday lunch is well-praised by the crew.

Several moments of joy and others of tears lying on the couch at home that no one ever saw or knew about.

But, mainly, a feeling of complete fulfilment that is also difficult to understand or explain.

Until suddenly that desire would start to hit me again.

The feeling that it was time to seek new things.

To leave the little house behind, the job, the car, the new friends. Now not so new anymore.

To go to another corner of the world to see what’s waiting for me there.

And if it doesn’t work out, that’s okay. We can always go back to our comfort zone.

But, a curious detail that I found myself reflecting on the other day.

If I need to go back home after 7 days or 7 years, it will no longer be the same as it was at the beginning of the story.

The place I was afraid to explore 7 years ago is now the place where I am the most confident version of myself;

My comfort zone.