Kiwis construtores / Constructive Kiwis

Há 5 anos eu pousava pela primeira vez na Nova Zelândia. Comigo foram apenas uma mala e a quantidade mínima de dólares neozelandeses exigida pelo governo local na minha conta bancária. Apesar de ter algumas ideias do que eu estava indo buscar quando decidi me arriscar em uma mudança de vida tão grande, jamais conseguiria imaginar todo o carrossel de emoções e experiências que eu viveria nesse tempo.

Cerca de 10 dias antes de embarcar, consegui marcar uma entrevista por Zoom para uma vaga em uma agência de publicidade, uma mesma que já tinha trabalhado no Brasil. Eu estava confiante em que estava preparado tecnicamente para o que era exigido no cargo mas a falta do inglês nativo me deixava apavorado.

5 minutos antes de a entrevista começar as únicas coisas que eu conseguia pensar era “desiste, desiste, vai embora, desiste, vai fazer essas pessoas perderem o tempo delas”. Não consigo lembrar o que me fez conseguir sentar na frente do computador e entrar no link da reunião mas lembro perfeitamente que cerca de 25 minutos depois do início, me despedi dos 2 entrevistadores que ainda estavam ali (a principal tomadora de decisão deixou a sala com cerca de 15 minutos) e desliguei a câmera.

Deitei na cama e, apesar de ter tido certeza que a entrevista tinha sido um fiasco total, me senti extremamente aliviado e com uma sensação de dever cumprido por ter participado do processo como eu havia me desafiado a participar no momento em que me candidatei.

É difícil descrever meus sentimentos quando peguei meu celular uns 40 minutos depois e li o e-mail da recrutadora dizendo que me enviariam uma proposta formal. Um contrato de 3 meses sem “qualquer garantia de que seria extendido” era algo que eu estava disposto a aceitar e “ver no que ia dar”. Não tinha nada a perder. Mas a partir daí o desespero só crescia à medida que a data de início dessa nova jornada se aproximava.

Já em Auckland, faltando dois dias para o início do trabalho novo, peguei um Uber de uma acomodação para outra onde estaria mais próximo do escritório e o motorista começou a conversar comigo. Ele, que imagino tinha por volta de seus 50 anos, cabelos loiros longos e bagunçados, estava com um cheiro de álcool em seu carro tão forte que eu pensei até em pedir pra ele me deixar em qualquer lugar logo após o início da corrida. Acabei não pedindo.

Geralmente eu sou uma pessoa mais introspectiva e acabo não me abrindo muito com pessoas que acabei de conhecer, mas esse foi um daqueles dias que a conversa foi fluindo naturalmente. Falei pra ele o que eu estava fazendo ali e o quanto desesperado eu estava (repare em quantas vezes eu uso a palavra “desespero” pra descrever esses dias).

É interessante pensar o quanto inesperados podem ser os lugares ou pessoas de que ouvimos e absorvemos mensagens importantes e que carregamos conosco para os restos de nossas vidas. Nesse dia ele me falou algo com um sorriso sincero no rosto que está comigo até hoje e que durante esses 5 anos foram sempre uma lembrança importante quando eu vivia dias um pouco mais desesperadores:

“No mundo existem pessoas destrutoras e pessoas construtoras. Pessoas que vão querer te derrubar a qualquer custo e outras que vão sempre te tentar botar pra cima. Nós, Kiwis, na grande maioria das vezes somos construtores”.

Ouvir aquilo ali, naquele momento, foi muito importante e me fez ter um pouco mais de segurança no que estava por vir.

E ele estava certo.

Em toda a minha trajetória na Nova Zelândia até hoje, eu só consigo lembrar de todos os Kiwis maravilhosos que me ajudaram a viver essa experiência incrível até aqui, sempre me botando pra cima em momentos em que não tinha certeza do que estava fazendo e fazendo eu me sentir em casa.

Eu poderia contar várias outras pequenas histórias que vivi durante o primeiro mês, ano ou últimos 5 anos, falar dos infinitos lugares maravilhosos que já conheci nesse país incrível e também dizer o quanto eu amo conhecer pessoas de outros países (uma delas, uma das 3 pessoas na entrevista de emprego) que em algum momento de suas vidas também escolheram a cosmopolita Auckland para ser seu lar. Mas isso tudo pode ficar pra um outro momento.

Faz parte da minha natureza volta e meia me sentir um pouco “desesperado”.

Eu não sei onde estarei durante os próximos 5 anos, mas quando mais momentos desesperadores chegarem, vou fazer de tudo para continuar me rodeando de pessoas construtoras. ❤

 

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5 years ago I landed in New Zealand for the first time. With me it was just a suitcase and on my bank account only the bare minimum amount of New Zealand dollars required by the local government. Despite having some ideas of what I was going to look for when I decided to take a chance on such a big life change, I could never imagine the carousel of emotions and all the experiences I would live in that time.

About 10 days before arriving, I managed to arrange a Zoom interview for a role in an advertising agency, the same one that I had already worked for in Brazil. I was confident that I was technically prepared for what the job required, but because I wasn’t a native English speaker, I was terrified.

5 minutes before the interview started the only things I could think about were “give up, give up, go away, give up, you’re going to make these people waste their time”. I can’t remember what made me manage to sit in front of the computer and join the virtual meeting but I remember perfectly that about 25 minutes after the start, I said goodbye to the 2 interviewers who were still there (the main decision maker left the room with about 15 minutes) and turned off the camera.

I lay in bed and, although I was sure the interview had been a total fiasco, I felt extremely relieved and with a sense of accomplishment for having participated in the process that I had challenged myself to go through at the time I booked that interview.

It’s hard to describe my feelings when I picked up my cell phone about 40 minutes later and read the recruiter’s email saying they would send me a formal proposal. A 3 month contract with “no guarantee that it would be extended” was something I was willing to accept and “see how things go”. I had nothing to lose. But from there, the despair only grew as the start date of this new journey approached.

A bit later when I was already in Auckland, two days before the start of the new job, I took an Uber from one accommodation to another where it would be closer to the office and the driver started talking to me. He, who I imagine was in his 50s, with long, messy blond hair, had such a strong smell of alcohol in his car that I even thought about asking him to drop me off somewhere right after the ride started. I ended up not asking.

I’m usually a more introspective person and I end up not opening up to people I’ve just met, but this was one of those days where the conversation just flowed naturally. I told him what I was doing there and how terrified I was (notice how many times I use the word “desperate” or “terrified” to describe these days).

It is interesting to think how unexpected can be the places or people from which we hear and absorb important messages and that we carry with us for the rest of our lives. That moment he told me something with a honest smile in his face that is with me to this day and that during these 5 years were always an important memory when I lived days I considered little more terrifying:

“In the world there are destructive people and constructive people. People who will want to bring you down at any cost and others who will always try to lift you up. We Kiwis, most of the time, are very constructive”.

Hearing that there, at that moment, was very important and made me feel a little more secure in what was about to come.

And he was right.

In my entire journey in New Zealand to this day, I can only remember all the wonderful Kiwis that helped me live this incredible experience so far, always pushing me up in moments when I wasn’t sure what I was doing and making me feel at home.

I could tell many other little stories that I lived during the first month, year or last 5 years, talk about the infinite wonderful places I’ve visited in this amazing country and also say how much I love meeting people from other countries (one of them is one of the three persons who were at the job interview) who at some point in their lives also choose the cosmopolitan Auckland as their home. But I will leave all these stories for another time.

It’s in my nature every now and then to feel a little “desperate.”

I don’t know where I’ll be for the next 5 years, but when more terrifying days come, I’ll do everything to keep surrounding myself with constructive people. ❤

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