Saúde mental
Mais um feriado prolongado. Mais uma bela viagem cercado de pessoas queridas. Mais um monte de fotos sorridentes em lugares incríveis direto para as redes sociais.
Tem tanta coisa que não vem pro mural e que nem sempre é percebida por aqueles que estão ali ao nosso lado nos vendo sorrir, contar piadas, fazer danças engraçadas e cantar alto no carro.
Eu não tenho propriedade para falar sobre saúde mental. Nunca estudei sobre o assunto ou me consultei com um profissional para que tivesse um diagnóstico preciso do que se passa dentro da minha cabeça. Eu só sei que passa muita coisa. E nem todas elas são boas.
Escrever sobre os meus pensamentos é, geralmente, algo que me faz melhor organiza-los e tentar entende-los.
Não acredito que eu já tenha escrito sobre algo tão sensível, entretanto, muito menos compartilhado coisa parecida de forma aberta para todos lerem.
Talvez dessa vez eu não queira somente organiza-los. Talvez dessa vez eu só queira grita-los para todos ouvirem e em troca receber uma palavra de apoio. Talvez eu queira, de alguma maneira, oferecer uma palavra de apoio para quem se sente ou venha a se sentir assim, durante algum momento em sua vida.
Tenho consciência do que falar sobre saúde mental publicamente pode causar. É um tópico do qual durante muito tempo eu tentei fugir.
Muita gente pode não entender, assim como eu não entendia a dor de muita gente, ou olhava torto e não tinha paciência para pessoas que pareciam ter a vida perfeita e ainda assim “criavam” problemas em suas cabeças.
Sei quantas pessoas eu posso assustar. Quantas pessoas queridas podem se preocupar. Outras simplesmente achar graça.
Sei que as pessoas do trabalho vão ler. Que algumas portas podem se fechar. Mas espero que algumas venham a se abrir.
Se me pedissem para tentar resumir o que é um pouco desse sentimento que me incomoda de tempos em tempos, eu diria que é sorrir sem estar se sentindo alegre ou verdadeiramente em paz. Ou estar presente em um lugar sem se sentir exatamente parte dele.
Acredito que a primeira vez que senti algo assim foi com cerca de 17 anos. Todos ao meu redor pareciam indo bem com suas vidas, enquanto eu enxergava as coisas que me motivavam extremamente distantes e difíceis de ser alcançadas.
Me senti melhor quando comecei a trabalhar, aos 19, e conquistar um pouco mais de independência. A partir dali parecia que eu sempre tinha algo pelo que lutar, correr atrás e fazer meu nome para conquistar meus objetivos.
E desde então eu lembrava da minha “fase sombria da adolescência” como algo distante e que eu esperava nunca mais reviver.
Revivi.
2019, 28 anos, uma trilha com os amigos seria perfeito para escapar dos problemas e espairecer.
Começamos em 7 pessoas. Durante aquelas 5 horas até o topo da montanha, por diversas vezes nos separávamos e cada um ia no seu próprio ritmo.
Em um determinado momento eu já estava há cerca de uma hora sozinho, sem contato com os outros do grupo que estavam à minha frente ou atrás. Na minha cabeça eu pensava em um milhão de coisas horríveis, e que pareciam tão reais como se fossem acontecer a qualquer momento.
Já com o topo não tão distante, me aproximei de um dos meus amigos, o Cadu, que perguntou: “E aí, tá bem?”. E era fácil perceber que, naquele momento, a pergunta dele era relacionada ao cansaço físico. Não havia porque ele entrar em algum outro assunto, ali. Meu corpo estava legal. Na minha cabeça, porém, eu sentia que estava tudo embaralhado de uma forma como eu nunca havia sentido antes. Mas então, achei mais fácil guardar pra mim toda aquela angústia: “Tudo bem”.
Algum tempo depois, finalmente cheguei ao topo. Meu amigo, que mais uma vez já havia aberto uma certa distância para mim, estava ali me esperando.
O combinado era abrirmos uma cerveja cada e brindarmos quando chegássemos lá em cima. Antes que ele pudesse dizer ou perguntar algo eu já fui logo me adiantando, dessa vez com um pouco mais de honestidade: “Aí, tava aqui pensando e acho que não vou abrir essa cerveja, não. Você me perguntou se eu estava bem antes… o corpo tá legal, mas a cabeça não tá tão boa”.
O Cadu é um cara muito legal e eu sou feliz de te-lo encontrado na vida e ali em cima daquela montanha. Eu conheço poucas pessoas que teriam reagido ao meu semi-desabafo com a mesma naturalidade e compaixão com a qual ele frequentemente compartilha com os que estão ao seu redor. Ele só abriu os braços e, entendendo do que se tratava, disse com um sorriso: “Fica tranquilo, tem muito amor aqui pra você, também”.
Naquele momento era só aquilo o que eu precisava ouvir para me manter são.
É engraçado e triste pensar o quanto deixamos de demonstrar afeto por aqueles que gostamos, ou quantas vezes guardamos para nós palavras de carinho por vergonha ou por qualquer outro motivo. Então é bom estarmos cercados de pessoas que não se importam em assim faze-lo.
Eu nunca quis ir a um psicólogo. Sempre fui do tipo que evita ao máximo ir ao médico e que recusa medicamentos por causa de uma gripezinha qualquer.
Então me consultar com um estranho pra saber o que ele acha que se passa na minha cabeça nunca foi uma opção que eu tivesse levado muito a sério.
Quando mais novo, acreditava ser frescura de gente rica. “Se eu cheguei até aqui sem isso, nenhuma dessas outras pessoas realmente precisava de um acompanhamento”, pensava. “Seja homem”, ouvia, quando já um pouco mais velho.
Depois de um tempo eu comecei a valorizar mais a profissão, mas continuava incrédulo que alguém pudesse me dar uma solução eficaz pra toda essa maluquice que se passa aqui dentro.
Atualmente acredito ainda que tenha surgido um certo receio de achar que a pessoa vai dizer que eu tenho todos esses problemas dos quais falam por aí – ninguém quer ser diagnosticado como doido.
Mas eu estou disposto a tentar.
Espero que você, que está lendo isto, caso em algum momento sinta-se inseguro ou incapaz, possa escrever para tentar se reorganizar. Possa se abrir com alguém que terá uma palavra de afeto para te devolver. E que também esteja disposto a tentar uma ajuda profissional quando se sentir sem rumo.
Tem muito amor aqui pra você, também.
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