Meu velho casaco novo

Você tem medo de envelhecer?

 

Sempre que eu penso nisso lembro de uma entrevista do Chico Anysio, dada pouco antes de sua morte, em que ele dizia que não tinha medo; tinha pena. E eu acho que esse é um sentimento bem parecido com o que eu tenho quando percebo que os anos parecem passar cada vez mais rápido.

 

Pois bem, dia desses eu posei pra uma foto e quando a vi na tela do celular percebi que nunca antes havia sentido um baque tão grande de me achar tão velho em uma imagem. Isso é meio óbvio visto que estamos sempre envelhecendo e naquele momento essa era uma das fotos mais recentes que eu havia tirado. Mas o que eu quero dizer com isso é que essa foi a primeira vez que eu me peguei olhando pra uma foto minha e tomando um susto do tipo “Porra! A idade tá chegando, hein, amigão”.

 

Achei poético, porém, o fato de eu estar vestindo nela um casaco que comprei em 2006 – provavelmente uma das minhas mais antigas peças de roupa que ainda uso nos dias de hoje.

 

Lembro exatamente do momento em que o encontrei na loja. Eu estava em uma viagem com os amigos e, sabendo que precisava de um casaco novo, tinha o briefing bem claro do que eu procurava na minha cabeça: moletom, cor neutra, capuz, com bolso e sem zíper.

 

Após alguns dias de busca, sem muito desespero, quando o vi no cabide logo soube que seria ele o felizardo. Não lembro muito bem o preço, mas tenho certeza de que foi um bom negócio. Isso porque na época nem passava pela minha cabeça que 13 anos depois ele ainda estaria sendo usado e virando protagonista de texto no meu – Orkut – Facebook. Se soubesse teria pagado até o dobro.

 

O preto pode até já não ser mais tão nítido como era antigamente, é verdade, e agora existem em suas mangas algumas pequenas descosturas. Mas elas são facilmente disfarçadas quando as dobro até o antebraço nos dias de menos frio.

 

Eu tenho certeza que cresci alguns bons centímetros desde 2006, quando tinha 15 anos, pra cá. Então é correto afirmar que o que eu acreditava vestir bem na época talvez não seria exatamente o caimento que eu escolheria na fase atual da minha vida.

 

O bom disso tudo é que eu acho que com o passar do tempo é quase como se ele tivesse se reinventado e agora vestisse ainda melhor.

 

E não é que no fim das contas é um pouco assim com a gente, também?

 

A gente vai vivendo e, às vezes, aquele briefing que tínhamos em nossas cabeças no passado do que queríamos ter ou ser acaba mudando quando chegamos no presente. Nossos gostos vão mudando, nossas cores preferidas podem não ser sempre as mesmas, e a gente vai se reinventando como dá.

 

E, voltando à minha própria imagem envelhecida, por mais que isso possa soar totalmente egocêntrico (e é), de tanto eu ficar me encarando na foto, aquela sensação de susto acabou virando meio que uma sensação de orgulho e admiração.

 

Tanto passo que esse cara de olhar sereno me encarando de volta já deu sem certeza do que viria pela frente, e ainda assim continuou caminhando. Tanta insegurança superada na marra. E tanta coisa legal que já viu e viveu, também.

 

As marcas no rosto eu, mesmo sem nunca ter procurado um dermatologista pra poder confirmar, imagino que não venham mais a desaparecer (espero que demorem mais um pouco para aumentar).

 

Mas volta e meia a gente vai mudando o corte de cabelo aqui ou deixando uma barba por fazer ali e para de focar nas nossas imperfeições.

 

Afinal de contas roupa desbotada é sinal de peça que foi bem aproveitada e cicatriz é sinal de história pra contar.

 

Você tem coragem de se reinventar?

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