Eu e três amigos nos reuníamos em uma tarde de sábado para tomar açaí em nosso lugar favorito.
Papo vai, papo vem, iniciou-se uma discussão um pouco mais acalorada entre dois deles sobre algumas atitudes recentes de um dos interlocutores. Coisa boba, discussão saudável entre amigos.
O terceiro elemento logo se prontificou a tomar as rédeas de um dos lados. Passou a concordar com cada julgamento de um e discordar das motivações do outro.
Eu, na minha, só observava. Prestava bastante atenção ao que estava sendo dito e tentava organizar os pensamentos antes de transformá-los em palavras. Provavelmente eles continuariam tendo sido apenas pensamentos, uma vez que não achei minha opinião necessária até aquele momento da conversa.
Até que veio a pergunta maldita: “E você, o que acha?”.
Acabei pendendo para o lado do underdog: “Veja bem, entendo a indignação de vocês e concordo com ela em alguns pontos, mas me colocando no lugar do Junior…”
Após concluir meu raciocínio, o amigo número 1, com um sorriso ao mesmo tempo debochado e concordante, devolveu: “Como sempre, em cima do muro, né”.
Eu poderia até tentar continuar argumentando mas na verdade o assunto acabou naquele momento. Então a minha conclusão foi de que meu ponto de vista ajudou a acalmar os ânimos e fazer todos refletirem um pouco mais.
Isso aconteceu em 2011.
De volta em 2016, uma nova reunião com os mesmos amigos, dessa vez em uma mesa de bar. Hoje o amigo número 1 estuda psicologia e estava colocando em prática alguns dos aprendizados que teve na faculdade até aqui. Ele ouvia atenciosamente o desabafo do amigo número 2 sobre problemas familiares e, ao fim de seu depoimento, contra-argumentou usando retóricas que o colocavam no lugar de seus familiares.
Fico feliz que existam faculdades por aí ensinando jovens a permanecerem um pouco mais em cima do muro. A refletirem um pouco mais, respirarem um pouco mais.
É claro que vão haver diversas situações em que só poderemos responder usando “sim” ou “não”. “Gosto” ou “não gosto”.
Na vida profissional e pessoal é importante termos nossas próprias opiniões, assumirmos posições.
O que me incomoda é o exagero. A banalização do “odeio”, do “se não for desse jeito, então não presta”.
É esquerda extremista e direita radical, coxinha e caviar, machistas e feminazis. Grupos que no fim das contas se merecem.
Talvez o mundo só esteja precisando de mais gente em cima do muro.
Ou, quem sabe, só estamos precisando mesmo de menos muros.
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