Imagine um relógio sem ponteiros.
Ele fica ali, no seu pulso, sempre a te acompanhar, mas a cada vez que você o olha não consegue descobrir que horas são.
E então você simplesmente continua a fazer aquilo que deseja.
Se algo está ruim é porque já passou do tempo de terminar. E aquilo que está bom vai se prolongando até que você encontre uma opção ainda mais prazerosa.
A corrida na beira da praia se estende até o lugar mais longe que você consegue alcançar. A guerra de cócegas, disputadíssima, só acaba quando sua adversária admite a derrota. A roda de música com os amigos vai até o Sol raiar. E se todos ainda tiverem voz ela continua por mais um tempinho.
Também funciona com um calendário sem datas.
Você passa todos os dias por ele, pendurado na parede, mas sempre que o olha é apenas para se lembrar que o dia de hoje é… Hoje.
Sendo assim, as escolhas do passado já não podem ser desfeitas. E você pode até gastar sua energia fazendo planos para o futuro, mas eles continuarão sendo apenas planos.
E então você se concentra no dia atual.
Aqui os seus amigos nunca se vão. O emprego dos seus sonhos é aquele em que você está no momento. E a vida que você queria é exatamente aquela que tem.
Vivemos em uma sociedade viciada no tempo.
“Se eu conseguir almoçar em 15 minutos vai dar para encaixar as lições do inglês na hora do almoço e sobra uma horinha à noite para eu ir à academia”.
“Se eu trocar o carro por uma moto vou chegar em casa mais cedo e poder cozinhar para o dia seguinte. Mas se eu for de moto quem vai levar as crianças para a escola?”.
São tantas hipóteses e suposições na eterna busca pela otimização do tempo que o mais importante de tudo acaba sendo deixado um pouco de lado: viver.
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