Era um dia corrido e cansativo no meu antigo trabalho quando eu finalmente encontrei alguns minutos para preparar minha bebida revigorante.
Após um primeiro e longo gole recompensador, sou abordado por um colega:
– Me dá um gole dessa Coca?
– Num é Coca, não. – respondi – É café. Mas, se quiser, bebe aí.
– Café? Cheio de gelo no copo?! Se não quiser me dar um gole é só dizer.
– É café, cara. Eu bebo gelado.
– Ah, fala sério… – E virou-se de costas, deixando a copa sem dizer sequer mais uma palavra.
Ainda que no dia seguinte meu amigo já provavelmente nem devia mais se lembrar do ocorrido, fiquei com a memória daquele acontecimento por meses.
Não me incomodava a indisposição momentânea do sujeito que convivia diariamente comigo e até então não havia esboçado qualquer sinal de antipatia. Porém, eu não deixava de pensar qual era o pecado em poder escolher a temperatura em que eu tomaria a minha própria bebida.
Tal fato me fazia refletir sobre o pré-julgamento que temos com qualquer situação, por menor que seja, que fuja dos nossos hábitos e costumes frequentemente presenciados.
Até quando precisaremos olhar torto para cada pequeno ponto fora da curva? Por que temos reações tão inflamadas com o que é novo aos nossos olhos?
Bilhões de pessoas no mundo e infinitos espaços a serem explorados das mais diversas maneiras e ainda assim tentamos definir padrões e determinar o que se enquadra no grupo do certo e no do errado. E a cada vez que paro para pensar no assunto, prefiro acreditar que o melhor a fazer é tentar me esquivar do enquadramento em um desses dois grupos.
Ah, e sobre eu ter citado a passagem pelo meu “antigo” emprego… Sim, já não bato mais ponto por lá.
Lá não entendiam o porquê de eu beber meu café gelado.
Leave a comment