Aí vem o louco são, mostrando ao mundo quem realmente os loucos são.
De casa pro hospício, apelidado por multidão, onde vive cercado por serenidades tão particulares que não o permitem entender o que significa estar dentro do padrão.
Desejos tão simples na sua cabeça, nasciam dentro do seu coração. Mas não eram simples na cabeça dos outros, não.
“Só mesmo um doido pra achar que é possível vivermos apenas com o que precisamos e não com o que queremos”, eles riam enquanto faziam a avaliação.
Ouça bem o louco são. Viu na rua tanta doideira que já tem história pra muita locução. Como a do senhor que deu seus chinelos a uma mendiga e do guarda escutou um sermão.
E por já ter presenciado inúmeras cenas igualmente deprimentes, preferia deixar pra falar só de coisas alegres, então.
“Mas como é irritante esse sujeito que não demonstra nunca se preocupar com nada, até parece que existe alguém realmente assim”, indignavam-se os lúcidos, donos da razão.
Só amava uma o louco são. Não entendia o que mais era preciso além de sua verdadeira paixão. E era bem certo do que queria, escapava fácil da tentação.
Tão decidido a ponto de sequer dar bola pra qualquer distração.
“Ilusão é querer nesse mundo ser todo de alguém”, escutou barbaridade do tipo enquanto ouvia uma canção.
Ficava perdido o louco são. Passeava por castelos de areia e convivia com seus habitantes modelo que tornavam-se outros ao passarem do portão.
Com tantos coringas e duas-caras, já não sabia quem era o vilão.
E tentava aproximá-los para, quem sabe, uma reconciliação. O problema é que no lugar de argumentos, só ouvia acusação.
“Você precisa parar de viver nesse mundo de fantasias onde todos convivem em harmonia eterna”, recebeu o conselho mas não planejava se mudar naquele momento, não.
Tinha pouco o louco são. Mas não era infeliz, só precisava de alguém para chamar de irmão. E a vontade era de assim chamar qualquer cidadão.
Até que depois de tantos olhares estranhos, colocou-se em auto-reclusão.
Entre boladas na parede e conversas com o espelho, ao menos sobrava tempo para o seu momento de reflexão.
“Se olharmos lá no fundo vamos enxergar quem realmente os loucos são. E então finalmente perceberemos que sereno mesmo é aquele que já desistiu de conhecer alguém totalmente são”.
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